sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

- MÃAE!! - Ouviu-se um grito desesperado na casa aparentemente calma.
- Sim?
- Vem aqui, por favor!!
- Que que é?
- Cólica, faz uma bolsa de água quente pra mim!
- Tá filha, dez minutinhos...

Ela já sabia havia alguns anos, que os dez minutinhos de sua mãe poderiam ser dez eternidades ou, com sorte, meia hora mas não tinha cabeça pra pensar nisso. A dor tinha que parar, era tudo que ela queria naquele momento... Gritou, esperneou e desesperou na cama morrendo de raiva do mundo e, de ser mulher. Isso acontecia de tempos em tempos, quando ela precisava ir ao ginecologista, quando pensava que era ela quem iria ter que carregar um bebê e que, óbvio, era de certa forma inferior a um homem. Mas em nenhum momento sentia tanto ódio do seu sexo quanto nessas horas agonizantes.
"Maldita cólita, maldito útero, eu vou TE ARRANCAR COM OS DENTES!" Ela pensava, enquanto rolava na cama. A dor era tanta que não conseguia ficar parada, tinha que se movimentar, em vão, procurando esquecer da dor.
- MÃAE! VAI LOGO! PARECE QUE ACENDERAM UM ESQUEIRO NO MEU ÚTERO!
- JÁ-VAI!
Ela estava pra explodir, seria capaz de matar um ali mesmo da raiva que sentia. Dor, para ela só tinha um resultado: o stress e a intolerância.
Tamanha era a força que fazia apertando o colo que seu estômago começou a embrulhar e, ao mesmo tempo que tentava se concentrar e pensar noutras coisas que a destraisse da cólica . Sentiu ânsia. Colocou a cabeça pra fora da cama e vomitou ali mesmo. Enquanto isso acontecia pensou na facilidade que ela tinha para vomitar, era quase um dom.
- MÃE!
- JÁ DISSE QUE JÁ VAI!
- NÃO É ISSO, EU VOMITEI...
- AH FILHA, JÁ TO INDO!
Dessa vez a mãe veio e, juntando toda a força que restava ela se levantou e foi até o banheiro deitar debaixo do chuveiro quente, já que a bolsa não viria naquela semana. A água corria e aliviava um pouco aquela dor que, não só a fazia contorcer como sentir queimar por dentro, como se tivesse um homem gigante apertando seu colo com um só dedo e rindo.
Saiu do chuveiro, meteu somente uma camiseta qualquer. - Normalmente, as camisetas quaisquer eram as largas e grandes de banda, ou um par de moletons do namorado que ela guardava em seu armário só pelo prazer pomposo de ter o cheiro. Deitou e rolou por mais alguns minutos.
Adormeceu sem que nem percebesse...
Acordou então com uma sensação boa. Olhou para a direita e viu o namorado ali, do lado da cama segurando na mão dela. Como ele tinha parado ali ela não sabia e muito menos se interessava. Estava descabelada - dormira com o cabelo molhado -, suada, com a cara inchada de tanto chorar e deveras rouca do tanto que gritou nas horas anteriores, mas nem se importou. Ele olhava pra ela como quem não sabe o que dizer e de alívio, dava pra ler no rosto dela que a dor já nem estava mais naquele quarto e que a aparição dele a surpreendera.
Ela chegou um pouco pro lado, pra esquerda. Aquele não era o lado dela na cama, ela dormia SEMPRE na direita, até porque era sempre a última a se deitar e a primeira a levantar... Mas nesse dia ela nem se lembrou disso, só queria curtir a sensação de não haver dor nenhuma, como era bom. Abriu o edredon pra que ele entrasse e esperou aquele abraço gostoso que a tanto tempo a aninhava com perfeição...
Ele se uniu a ela na cama, e ela virou de costas, como gostava para que ele a abracasse e ela sentisse aquela sensação estranha de proteção quando deitavam daquele jeito. Tudo estava bem, não havia dor, só o silêncio e o abraço daquele que a amava e que tinha simplismente surgido ali, como se soubesse que ela precisava.

- ...Mãe, como o ele veio pra cá?
- Você gritou o nome dele algumas vezes enquanto dormia e rolava de dor, então eu liguei e pedi pra que ele viesse... parece que pelo jeito foi bom.
- Foi ótimo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário